domingo, 20 de julho de 2008

Passagens Utópicas: Narrativas da Sobra e da Imprecisão

Walter Benjamin

Sobras

De tudo que me é escolhido
por obra de estranho destino
resta-me persistir em palavras no escuro.
Meus pertences,
que me são?
Tudo que tenho é continuar escrevendo.

oh deus! já te escrevo tanto,
a quem, se te existes?
para quê?
De que me resta descabida procura?
Não encontro mais letras
tampouco versos que combinem
apenas,
um insano desejo de continuar.

Escrever é uma forma de flanar
entender/ captar
será?
com fôrma estranha.
Quiçá,
de sobrar
em sonhos reais.
Ana Perissé


Quando era mais nova desejava muito escrever. Nunca porém encontrava tema e forma à altura de um respeitoso leitor ( todos os leitores são criaturas respeitáveis). Se o Outro não me deseja
como escrevinhadora, há morte anunciada para deitar-me, convocando-me à dor de sentir o nada. No entanto, hoje percebo que a confusão me acalma porque ela só me violenta ou me acalenta na ausência de sentido.

Aos Outros, um dia, saberei o quê falar.
Mesmo como doutoranda (muralha ainda mais esmagadora), agora. O tempo é este.

“Sem consideração, sem piedade, sem pudor
Grandes altas muralhas em torno de mim construíram.
E agora estou aqui e me desespero.
outra coisa não penso:este divino devora meu espírito;
porque muitas coisas lá fora eu tinha que fazer.
Ah! Quando construíram as muralhas,
Como não dei atenção? [...]

Konstantin Kavafis
Assim começa meu suave desespero utópico...

Se as utopias nos fogem, e o sonhador tem cara de farsante ou " louco de pedra", há que se ter permissão em algum lugar para este processo atrofiante-distópico.
No nosso desejo de ser/estar e sentir no mundo contemporâneo? Espaço aberto para reflexão.
Transponhemos muralhas, pois, herculeamente... UMa conocação pessoal...
Não, não serão mais construídas, tão altas ou fora do escopo de nossa atenção crítica, recheada de razão sensível!
Ah! Os sonhos diurnos de Ernest Bloch....

Decifrarei Passagens de Benjamin
como que se aqui Walter se assombrasse
tal como o fez em paris do século XIX...

Território internético
do não lugar... o quê fazemos aqui?
trocas? mais? de que substancia?

É lócus para utopia?

Existem lectores salteados a produzir sentidos?

Que fazemos nós (n)deste lugar?

Nós, netzens?

E eles, excluídos digitais? Aonde?

Interação entre estes mundos?


Não, não quero reflexões utilitaristas, descrições cientificizantes...

busco novas paisagens

para ciber-passagens.

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