domingo, 23 de novembro de 2008

Loja de Sonhos

By O. Heize*

Loja de sonhos

O.Heinze

Roubei num tempo distante

uma faixa de praia e de mar

e guardei numa concha grande

de onde escuto o cantar encantador:

das sereias libertador:

das gaivotas namorador:

das baleias das ondas: contra ilhotas.

E enquanto a maré vai fluindo

na praia de minhas lembranças

sinto um calor me cobrindo

da brisa salgada que dança.

Revejo um pesqueiro moroso

empurrado pela calma do acaso

num mar tão preguiçoso de azuis aonde vou raso...

Reparo na praia tão cheia

crianças brincando, vendedores cantando

assobios e risos na areia

e minha fantasia namorando...

Eis que voltando para a realidade

essa fantasia continua fantasia

meia mentira, meia verdade

guardada nessa concha vazia...
* Heinze é artista plástico, poeta e escritor paulista. Amigo. Cúmplice. Comparsa de inspirações. Querido. Admirado. Necessário na paisagem artística de nossa terra.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Uma Livraria Fechada

Santa Sabedoria by Sergio Niculitcheff

A profusão de seres homo-mercato-encantatum que circulavam freneticamente pelos corredores de um shopping center serrano, no estado do Rio de Janeiro causa-me perplexidade. Ainda. Sinal de vitalidade pesudo-intelectual?


Era um domingo de sol e a circulação frenética destes viventes felizes em seu desejo de adquirir sonhos como se presentes num portal metafísico, com uma força de empuxo magistral, colocassem todas as pulsões de um ser-humano no simulacro de dignidade das aleias despersonalizadas no tal neo-templo hipermoderno, jardins suspensos de objectos.


Ao final de um corredor, transeuntes desfilam histericamente por uma livraria fechada. Ninguém desacelera seu pulso para percebê-la ou reconhecê-la como facto digno de dor. Passam em passadas rápidas, pressa, agonia de comprar em dia de descanso, contemplação...


Escura, empoeirada, vestígios de uma vida comercial destinada à extinção. Eu enfio meu nariz na vitrine e deixo meu rastro de uma rino-escultura de poeira que se desfaz em minutos. Uma mulher de seios fartos, saltos e portadora de sacolas mil olha-me de
soslaio e a meu nariz com poeira cinza de vitrines ancestrais...


Penso no desejo que uma livraria me desperta. E o facto de desconhecer o endereço da biblioteca municipal desta localidade frustra-me ainda mais. Que faço eu com minha pulsão libinal de lecturas e de passagens?


Os cidadãos ( ainda?) perdem-se de Eros esfregando-se pelo andar e olhar nas vitrines vivas vazias de sonhos ou insinuações dionisíacas de festivais com bacantes...


Uma lágrima é minha satisfação pulsional.
Onde fica o lócus de desejo neste mundo?


No sexo sem erotismo?
Na rapidinha sem o olhar?
No vestir uma pele que não pulsa?
Na mercadoria vazia de signos?
No techno-colecionador?
No flâneur-fake de shoppings centers?
No ideal desrealizado de trabalhar para acumular?


O inútil é o vazio que me dignifica. E a suspeita, a vida desperta que me insinua.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Schönberg* Das Chorwerk

Two Canons
( Texts after Goethe " West-östlicher Divan)

WHEN THE DEEPLY DEPRESSED LAMENT
(taken from: Hikmet Naneh - book of proverbs)

When the deeply depressed lament
That help, hope is in vain,
Again and again a friendly word
Will always remain a confort.

ALAS, THERE ARE SO MANY SENSES
(taken from: Suleika Naneh - book Suleika)

Alas, there are so many senses!
They bring confusion into happiness,
When I see you I wish I were deaf,
When I hear you I wish I were blind.


* Arnold Franz Walter Schönberg, (Viena, 1874 — Los Angeles, 1951) foi um compositor austríaco de música erudita e criador do dodecfonismo, um dos mais revolucionários e influentes estilos de composição do sé. XX.
Suas primeiras obras, apesar de ligadas à tradição pós-romântica, já prenunciavam um método composicional inovador, que evoluiu para a atonalidade e, mais tarde, para um estilo próprio, o dodecafonismo. Schönberg foi também pintor e importante teórico misical, autor de Harmonia e Exercícios Preliminares em Contraponto.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

(BrinCADEIRINHAS)



By Amor Letal

I- retire o AMAR da amargura

mesmo que o poeta afirm’em terra FIRME

“nunca é doce morrer no mar "

TSUNAMIS à parte

VIVER é melhor que sofrer

em qualquer Lugar



http://www.fotolog.com/manu_negra

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Perdida na vida

Lost in Translation



Lost in Translation by Joanna Zjawinska

http://www.joannazjawinska.com/


Perder-se enquanto os outros
vivem
ou se acham
quase inteiros

quero perder-me
por um pouco de vida
em fragmentos
transitar-me
passar
friccções com doses de afectos
mutantes
díspares
sem sentido.

quero perder-me na tentativa
de traduzir a sombra do mundo
esquecida
diante do espelho ancestral
de sermos apenas
nós


( as velas se apagam e o candelabro se ilumina no escuro,
vestes nuas)