segunda-feira, 14 de julho de 2008

O Retrato do Cidadão Enquanto Nada



Etelvina é uma balzaquiana de classe média do Rio de Janeiro.

Tem dois filhos que deixa por período integral no melhor colégio de seu bairro ou na escola cuja estratégia de marketing promete que seus rebentos serão empreendedores do futuro próximo. Vencedores.

Trabalha cada vez mais sem receber hora extra para poder mais consumir. Sua eficiência no emprego lhe retira ânimo para estar em plenitude consigo e com sua família. Será promovida mês que vem.

Seu marido está desempregado apesar de sua qualificação.

Janta vendo Jornal Nacional para se informar. A comida tem gosto de Fátima e Bonner ou Hommer? Entre o desfile de notícias, vem-lhe a apatia que desconhece.

Acredita que próteses de silicone lhe farão a auto-estima brotar tal como uma semente vira uma jabuticabeira florida que atrai passarinhos do além -mar.

Sente-se mal porque está acima do peso.

Prefere cirurgiões plásticos a psicanalistas.

Tem seguro de saúde e não se interessa pela precariedade do atendimento público.

Passeia em shoppings durante os finais de semana e troca de carro e celular todo ano ou até a próxima campanha de comunicação lhe seduzir com fantasias oníricas de velocidade, charme e sucesso.

Sapatos, compra três a cada temporada ou estação? Parcelas de cartão de crédito pululam de mês em mês.

Uma atitude reflexiva através do hábito da leitura fora da esfera de best-sellers e livros de auto-ajuda é mundo alienígena, distante ou inexistente. Que é isso? Pra quê? Por que perder tempo?

Time is money. Reflexão gasta tempo.

A violência urbana lhe garante um carro blindado com insulfime. O condomínio onde mora tem seguranças e cerca elétrica.

A miséria e o desconforto do Outro ficam esvanecidos diante de suas córneas que não desejam enxergar.

O Outro é uma entidade abstrata se não lhe atinge. Quem leva porrada está longe e desconhece que apanha em seu íntimo. Sobras, para onde resvalam?

Os tiros, o desemprego, o sangue, a nova inflação, a insegurança, perpassam cabeças, memórias, famílias, raízes, histórias de vida. Que faço com isso?

Micropolíticas, a reflexão e a práxis na esfera da comunidade, mobilização. Coletividade. Categorias desconhecidas e fadadas ao nada. Um "nada de governo que tudo procura governar." ( Heliana Conde in Direitos Humanos? O Que Temos a ver Com Isso?, CRP)

Valentina constrói seu casulo.
Virou uma minhoca à espera do vôo. Para onde?

Dubai.
Miami.

Consumo e ilusão de segurança, um presente extendido e a-histórico.
Nomadismos em direção ao nada que pretende reduzir a multiplicidade de nosso cotidiano a um só, medíocre e a-crítico.
Desumanidades autorizadas e naturalizadas passeiam na vida de Etelvina, a nossa vida.

O excesso do nada.

3 comentários:

seufuviu disse...

- simplesmente só...


Antonio Gramsci sorri para ANTONIO GRAMSCI:
- mente simples ou simples mente –fals’ou verdadeiro... derradeir’ou pioneiro -complexo...
ANTONIO GRANSCI sorri para Antonio Gramsci:
- as fezes ignoram as fases... amemos - faremos... a escatologia - com‘os Andrades amaram a antropofagia...
Antonio Gramsci sorri para ANTONIO GRAMSCI:
- quand’olho para mim - me reconheço....quand’olho procê - o desconheço... será a diferença da indiferença?
ANTONIO GRAMSCI sorri para Antonio Gramsci:
- t u/ e l e/ n ó s/ v ó s/ e l e s y e u? quem seremos?
Antonio Gramsci sorri para ANTONIO GRAMSCI:
- ahh? BANG! /susto/tô loca... ou lôco - por quem ?
ANTONIO GRAMSCI sorri para Antonio Gramsci:
- sorri/falei/pisquei/fui a praia/flertei/gritei....para mim
Antonio Gramsci sorri para ANTONIO GRAMSCI:
- Antonio pare de sorrir para Gramsci...gransci,não se cansa de antonio...casualidade/causuísmo ou loucura mesmo?
ANTONIO GRAMSCI sorri para Antonio Gramsci:
- são momentos ..Antonio responde
Antonio Gramsci sorri para ANTONIO GRAMSCI:
- são tormentos desdiz Gramsci...
ANTONIO GRAMSCI sorri para Antonio Gramsci:
- era/nicotina...a lua y sua sombra...na esquina/pecadora....lingerie negra y fina/antonio afoito...percebe Gramsci atônito/apaixonado?....perdido
Antonio Gramsci sorri para ANTONIO GRAMSCI:
- troquemos de lugar...seremos Gramsci
ANTONIO GRAMSCI sorri para Antonio Gramsci:
- morri para Stalin... proclamei “os intelectuais y a cultura” * resmunga *... se’mim, jamais serias Antonio Gramsci # Mussolini morreria feliz...
Antonio Gramsci sorri para ANTONIO GRAMSCI:
- somos monólogos de um mesmo nome como aves siamesas a sibilar suas operetas – tais: uma mesa de três pernas - um caderno sem folhas - mas continue... fale de você para mim...quem sabe não se identificará comigo?
ANTONIO GRAMSCI sorri para Antonio Gramsci:
talvez... tentarei...saiba que mais uma vez morreremos no mesmo caixão – sob o mesmo chão - com a mesma lápide - na mesma hora... dia y idade... conseqüências... simples sortilégios’privilégios de um mesmo nome y sobrenome...
ANTONIO GRAMSCI sorri para Antonio Gransci:
- boa noite Antonio...
Antonio Gramsci sorri para ANTONIO GRAMSCI:
- boa noite Gramsci....

Ana Paula Perissé disse...

Boa noite, Gramsci.

Anônimo disse...

Era um pacato cidadão sem documento...
outras palavras para semi-tom e meia boca: cidadão
Engraçado é que cidadãos só formam uma cidade...
qual o superlativo dela...
Metró... pólis... inteira