terça-feira, 23 de dezembro de 2008

marcas

Imagem by Oliver Follmi

marcas
do continuum
de uma história
plena de agoras
outrora não vividas
irrompem
de forma abrupta
o despertar do qual tanto anseio.

meu passado que não se fez
é AION
tempo mágico
ah! venha tomar-me
de assalto
e à ti me entrego
à acção vindoura
do que ainda me resta
longe de CHRONOS
faminto e brutal

te quiero
como amante
KAIRÒS
desfigurante
vívido,
pulsante
e não linear

como numa brava magia
de Moiras
dançarinas celebrantes da Vida
esvoaçante
desejante
pra nós.

(deixemos uma celebração lunar atemporal ao ano gregoriano de 2009)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

"Acaso como impulso criativo"


Esta idéia é de Nietzsche. Esta frase.
Seus desdobramentos, todavia, lecturas mil, podem ser nossas. A genialidade de alguns viventes em eternidade nos permite este tipo de experiência singular.

Tenho muito receio de saber(ilusoriamente) que sei, cair na armadilha desta certeza e me fechar ao acaso.

Nada mais me emocionar se me engessar no aprisionamento de uma linearidade fictícia, como se os cabelos ruivos esvoçantes de uma tela não mais me remetesse à beleza ainda não cristalizada de um pensamento estético a realizar-se.

Tripartizar o tempo em passado, presente e futuro também é reduzir-se ao não movimento elíptico, a uma sucessão de eventos sem ventos, marolas, o indesejado que se aconchega, de repente, à nossa volta.

Gostaria que se abrisse à razão a origem mítica que nos forneceu densidade histórica e subjetiva desde tempos imemoriais.

Gostaria que se abrisse `a estética de hoje uma multiplicidade de possibilidades em desvario, aliada a uma ética não egóica, esta estranha moral em monobloco que arrisca o sempre o mesmo.

Gostaria do acaso à espreita, sempre. O alcance do diferente e do estrangeiro, do amor a pequenas causas e seres, a pequenez harmoniosa com o Uno regente de uma razão sensível.

Hoje, gostaria da capacidade de sermos todos afetados por afectos, paixões , pela experiência cantada do Outro. Sabores que nos levam feito náufragos num raro instante de desejo dionísiaco.

Queria cabelos esvoaçantes chacoalhados pelo necessário impulso que nos desaprisiona de nós.
Ardei por dentro
e deixai que a chama
perturbe
estranhe
remexa!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Errância

Foto by Manu Negra
http://www.manunegra.blogger.com.br/


errância
metralhadora de versos livres
tiros per-ditos
não sou poetisa

(de nós)

no dízimo que não pago
à pilhagem alheia
no desprezo
ao gerúndio dos tempos que não ficam

(raízes de nada
em suspensões)

desvitalizo-me, mesmo assim
quantos vampiros nos cercam?

às favas
quem gorjeia
com pança cheia
às custas de vidas sofridas

ao inferno
quem finge
ou não sabe
da vida que é.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Pontes


deixem que pontes
fascinem a cidade nua.


Passageiros
quando de si
a uma beira
chegam
para inventar desejos.


Pulsar em trânsito
encontro de espectros
sem aviso.

(cada onda que em ti bate, estremece vida que se desloca)