sábado, 27 de setembro de 2008
A Invenção da paisagem por Anne Couquelin e André Lemos
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
A Existência Como Encontro
"Escrever, pensar e ler. Fazer o caminho contrário é outra forma de percorrer o mesmo caminho. Habitualmente, leio, penso e escrevo. Mas a rotina é a rota da botina. Dar a rasteira na rotina, e escrever, pensar e ler. Escrever sem pensar, pensar sem ler e, então ler outra vez. Reler o relido."
Gabriel Perissé
http://www.perisse.com.br/
Quando meu pai faleceu, fez-se silêncio estranho. Escrever era-me necessário, assim como pensar, sonhar, relembrar e ler. A estranheza da naturalidade da vida está impressa nessas ações que movem mais directamente o espirito. Tentativas mundanas de minha parte de contactos extra-corpóreos ou metafísicos.
Todavia, a vida não tem muita magia. Tampouco desejo esta pseudo-magia espetaculosa dos dias actuais. Prefiro observar o caminhar de formigas quando tomo meu café com leite todas as manhãs e atormentar-me pelo facto de escrever idiossincrasias sem valor mesmo sabendo que o destino me é a não - lectura. Isto sim pode ser mágico. Passar incólume sem falar demasiadas asneiras egóicas. O silêncio me significa. Dignifica.
O facto é que meu pai, além de uma riqueza de lembranças elaboradas e recontadas em meu livro de alma quase sempre, deixou-me um pequenina biblioteca. Nela, encontro um primo. Um professor. Um livro seu. Com dedicatória e tudo, com vontade de encontros.
Por internet faço contato. Nos encontramos. Nos conhecemos ou nos deixamos próximos à possibilidade de sermos familiares ou amigos ou colegas ou existentes solidários. Seu trabalho como professor e escritor trouxe-me significados novos.
Professor Gabriel Perissé mobiliza minha vontade e me faz conceber a mundanidade da vida como a possibilidade de encontros. Minha existência sai ganhando fôrmas novas e eu sinto uma vontade ingênua de alardear facto tão corriqueiro aos quatro ou cinco ventos ( porque criamos mais um...). Eu leio Gabriel, leio seus rastros neste mundo, ele é Homem que deixa rastros.
A intensidade me constitui. E o caminho das formigas se faz a cada dia por paredes diferentes.
Meu pai apresentou-me a um parente enquanto eu o construía como um novo pai imaterial pra mim. Ainda posso ganhar presentes dele. E sua existência que cessou por aqui ainda é insumo para novos encontros.
A vida não é mágica. É dolorosamente bela, estranhamente misteriosa. Fere a cada instante e muda e irrompe.
Amo, cada vez mais, nada ser . Sou apenas uma vivente com encontros a existirem. E eu os faço.
Ler e Escrever
terça-feira, 23 de setembro de 2008
domingo, 21 de setembro de 2008
Lançados em Bordeaux
Ivo Viu a Uva. Em Angkor.
Tudo visto e escrito sob a fôrma correcta. E os pontos finais sempre me anunciam uma nova jornada a ser percorrida. A quem mais?
Com a ingestão de apenas uma uva estragada, Ivo foi parar no SUS com diarréia, forte dor abdominal e delírios de perseguição. Sua história mediana, de cidadão normal e doente com sintomas de razoável diagnóstico não interessa a ninguém, tempos desumanos... A não ser a malucos por lecturas trash em dias de domingo com chuva.
Sendo assim, talvez possa captar sinais e nuances de instantes efêmeros, barulhos constituintes de silêncios normóticos e, quiçá, continuar a escrever sua história.
(Autores farsantes necessitam de desculpas e de convencimento de uma meia dúzia de um ou dois lectores lunáticos.)
***
Desfalecendo, o soro enfiado em uma de suas veias lhe injetou uma dose de rubor em sua alma que continuou em seu caminho, já muito antes iniciado, de percorrer as florestas do Camboja até sua terra natal, Angkor Vat.
Nascido nesta região no ano de 946, uma metrópole que estava em seu apogeu, com riquezas deslumbrantes e governantes que concentravam todo o poder. Ivo era um aprendiz de sacerdote que se ocupava com a plantação de arroz de sua comunidade. O excedente era vendido a preço reduzido.
Os sacerdotes que o rodeavam, poucos, é bem verdade, posto que sua posição social não demandava mais atenção de ninguém, a não de ser daqueles que abraçavam seu ofício com o verdadeiro afeto caridoso para com o outro, não compreendiam a origem de seu mal. Alguns rituais foram realizados, mas Ivo continuava desfalecido apesar dos banhos específicos. O quadro se configurava muito nebuloso pois estava inconsciente para relatar se fôra uma visão ou uma ingestão.
Encontrado caído no arrozal, com uma cesta de sementes violáceas. Suas pupilas estavam dilatadas e restos de tremor percorriam sua fronte.
A visão ou a ingestão de uma imagem pode ter seus malefícios ou benefícios à sombra. A cura depende de uma anamnese profunda, quase histórica, para além do individualismo actual. Ivo é reminiscência de tantas memórias assim como seu vizinho, um proto-normopata.
Uma uva roxa, de sabor agradável, é resultado de uma virtualidade, semente da vida. Os sacerdotes diante do mistério da origem retomam suas inquietações e desentendem-se quanto ao tratamento. Ivo era trabalhador forte, importante para a comunidade.
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Com a desconfortável percepção da desatenção da equipe médica, ele sofria quieto. Estava abandonado no chão do corredor de um hospital público, com o soro a despencar suas últimas gotículas. Preso em seu corpo flagelado pela fraqueza, Angkor ficava cada vez mais distante. Vira a uva e o largaram ali, na esperança que cedesse seu lugar o mais breve possível.
Dar lugar a quem? Qual seria o próximo com um ponto final instaurado pelo non-sensus da vida quotidiana banal? Em Angkor, era importante à sua comunidade, o final de qualquer evento era quase um ritual de iniciação à uma abertura elíptica. Aqui, Ivo se perdeu em sua incompletude mal compreendida.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Janine
Ela era bela, estonteantemente pálida, eu a reconheci. Sem hesitação, me aproximei e deixei-a falar. O silêncio que se seguiu preencheu-me com um fio de compreensão . Olhava-a, descobrindo os detalhes de seu rosto que não eram revelados em minhas visões. Todavia, a sofreguidão e a inquietude que mesclavam-se em sua brancura azulada, incomodava-me. Qual razão para tamanho sofrimento? Respostas que poderiam rondar minha mente prenhe do medo de um novo, covardia demasiada humana, impedia-me de capturar sentidos.
Subitamente, aquela forma feminina, de algum temp(l)o distante, fez um sinal para que a seguisse em seu particular caminho. A cada passo, revelações de novas fôrmas, cores, atitudes, vida.
"- T., não sabes o quanto necessito de ti. E tu, meu caro, de mim. Tantas tentativas e tantas recusas tuas. Deste-me uma chance, hoje."
E a cada palavra sua eu sentia frêmitos e ondas do recém-descoberto-rememorado fazer ou voltar como parte de mim. Eu me permiti o estranho, em sua companhia. Janine era imprevisível e entregue ao fluxo do devir circular ( tempo espiral?).
Vivemos o máximo de tempo juntos.
Seus hábitos eram-me muito estranhos. Sua fragilidade mantinha-me em estado de confusão; sua sensibilidade e fraqueza física eram pontos obscuros num oceano de nada.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Sobre Independências. Por Ângelo Portilho, grande amigo.
Depois de 508 anos, estamos nós aqui, evoluindo e querendo que as águas do rio Ipiranga comportem todas as lavadeiras que delas dependam para trabalhar.Que as escolas de pau a pique recebam os meninos e meninas que fizeram u'a maratona na estrada de terra para estudar.Calçando um par de sandálias trocado por um voto, vindos de uma casa de taipa iluminada à lamparina.Que os campos de várzea revelem talentos no esporte.Que os hospitais e o atendimento do Sistema Único sejam saudáveis.Que os ladrões de galinha estejam seguros por não precisarem do nosso famoso jeitinho para se alimentar.Que a terra onde se planta, esta vastidão de terra, não seja poeira mas forneça o arroz com feijão.Sem bolsa esmola, vale gás, vale transporte, vale leite, vale paternalismo...Porque vale tudo é a briga da grande maioria para viver no país do futuro.Da ordem, do progresso. Do pensamento, da ação.E a bolsa que precisamos é a "de valores".Dignidade, cidadania, oportunidade, ética.Indepedência? Ou sorte?
domingo, 7 de setembro de 2008
Esperanças Urbanas. Independentes.
http://www.fotolog.com/manu_negra
Esperanças Urbanas, Independentes.
Ana Paula Perissé*
Vem cá, garoto
eu te dou um trocado
(pretexto, culpabilis?
no estômago da classe média
cafonum-consumericum demens)
e tu, um sorriso
que nos une,
como irmãos
na imensidão de ruas,
sinal fechado
vidas em aberturas.
Vem cá, garoto,tens meu respeito
e te quero muito
muito longe daqui.
(infernum operandi em potência e desrespeito)
Na escola
Na família
No teu lar
crescendo para ser.
Cidadania não mais perdida.
Adquirida.
Direito de meninos,
adultos,
velhos,
negros,
brancos ou
marcianos.
MINORIAS são maiorias no coração de TODOS.
( humanos humanizados pelo elo da ética)
INDEPENDÊNCIA para além
muito além de setembros
em sétimos dias.
De nada.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Pós-Vida
Abismo da Beleza Nua
A José Castello, inspiração, sempre.
"Há um quê de abismo
em cada respiraçãocomo se a dúvida
da Queda
martelasse
para a Vida
em minha sôfrega
existência.
Suspiro de ausências
me preenche
do inútil
que me inventa"
Há um estremecer em nosso interior. Sempre.
Sombras e imagens que se desfazem sem o sabermos
sou uma sombra de mim
em instantes
ou um simulacro de imagem
que não se sustenta sob luz bruxulenate projetada numa parede áspera?
Para quê ser poeta?
Para ler aquilo que ainda está para ser escrito
inútil
se não transformado em sombras de nós.
O mundo é emaranhado de possibilidades de lecturas.
A Ciência lê com razão e técnica coladas num real chapado.
A Magia, o encontro celebratório da vida no cotidiano, lê com alma.
O terapeuta, lê emoções flutuantes entre 4 paredes.
e o poeta
nada lê.
não se propõe
poque sabe que há resquicíos no silêncio inaudito
maldito
que reina
incompreensível
para nós.
E não pergunto à vida
vou à rocha observar seu canto
lasca imprestável
de um zumbido de vida.
Mas o quê existe
insiste
e lá fica a nos rodear
com sua beleza
a imensidão incontida
em nós
e no mundo.
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