"Escrever, pensar e ler. Fazer o caminho contrário é outra forma de percorrer o mesmo caminho. Habitualmente, leio, penso e escrevo. Mas a rotina é a rota da botina. Dar a rasteira na rotina, e escrever, pensar e ler. Escrever sem pensar, pensar sem ler e, então ler outra vez. Reler o relido."
Gabriel Perissé
http://www.perisse.com.br/
Quando meu pai faleceu, fez-se silêncio estranho. Escrever era-me necessário, assim como pensar, sonhar, relembrar e ler. A estranheza da naturalidade da vida está impressa nessas ações que movem mais directamente o espirito. Tentativas mundanas de minha parte de contactos extra-corpóreos ou metafísicos.
Todavia, a vida não tem muita magia. Tampouco desejo esta pseudo-magia espetaculosa dos dias actuais. Prefiro observar o caminhar de formigas quando tomo meu café com leite todas as manhãs e atormentar-me pelo facto de escrever idiossincrasias sem valor mesmo sabendo que o destino me é a não - lectura. Isto sim pode ser mágico. Passar incólume sem falar demasiadas asneiras egóicas. O silêncio me significa. Dignifica.
O facto é que meu pai, além de uma riqueza de lembranças elaboradas e recontadas em meu livro de alma quase sempre, deixou-me um pequenina biblioteca. Nela, encontro um primo. Um professor. Um livro seu. Com dedicatória e tudo, com vontade de encontros.
Por internet faço contato. Nos encontramos. Nos conhecemos ou nos deixamos próximos à possibilidade de sermos familiares ou amigos ou colegas ou existentes solidários. Seu trabalho como professor e escritor trouxe-me significados novos.
Professor Gabriel Perissé mobiliza minha vontade e me faz conceber a mundanidade da vida como a possibilidade de encontros. Minha existência sai ganhando fôrmas novas e eu sinto uma vontade ingênua de alardear facto tão corriqueiro aos quatro ou cinco ventos ( porque criamos mais um...). Eu leio Gabriel, leio seus rastros neste mundo, ele é Homem que deixa rastros.
A intensidade me constitui. E o caminho das formigas se faz a cada dia por paredes diferentes.
Meu pai apresentou-me a um parente enquanto eu o construía como um novo pai imaterial pra mim. Ainda posso ganhar presentes dele. E sua existência que cessou por aqui ainda é insumo para novos encontros.
A vida não é mágica. É dolorosamente bela, estranhamente misteriosa. Fere a cada instante e muda e irrompe.
Amo, cada vez mais, nada ser . Sou apenas uma vivente com encontros a existirem. E eu os faço.
Ler e Escrever
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