segunda-feira, 30 de junho de 2008

Encontros


- Qual é o seu nome?
- Anderson.
- Venha comigo Anderson.
- Você é confiável.
- Eu sou confiável?
- Não... quero dizer que nós confiamos um no outro, eu em você e você em mim.
- Espere um pouco Anderson, vou comprar o que você pediu.
- Obrigada, muito obrigada. Você tem filhos?
Olhou profundamente para Anderson e uma lágrima escorreu.

Esse foi o encontro entre Anderson e D.P. – na rua vive ele, na rua vago eu.


Obrigada Ma belle, obrigada Lumet, obrigada Anderson - assim faz sentido.

Uma tal felicidade









Poesia que mora aqui dentro,

quero que uma vez por todas,

você emane de mim junto com a gelada lágrima,

que insiste em se formar

cá dentro de minhas entranhas


Um mar,uma chuva, um olhar,um sonho

Uma mudança de foco,

uma vida renovada

Desejos,poesias,beleza,paixão

Fontes que brotam do éden do meu corpo

Prazeres de brisa que acariciam o meu rosto


Ah,como eu quero o riso libertador

A densidade das palavras precisas

A arte de se fazer o que realmente se quer

Aquilo que insiste em jorrar

de dentro da alma seqüestrada


Liberdade de escolhas sinceras

Sentimentos intensos, clandestinos,legítimos,

Arte encharcando os contornos das vísceras:

Alma alimentada por essa tal felicidade.


(Obrigada, Delirante e Annah, por me fazerem voltar a sentir.)

domingo, 29 de junho de 2008

O Inútil ou o Vazio que Suspeita



" Nasci para administrar o à-toa
o em vão
o inútil."

Manuel de Barros em "O Livro Sobre Nada", p. 51.

Tenho receio de postar as sutilezas poéticas deste autor brasileiro, que já passou de seus 90 anos e ainda continua em seu scriptorium da vida a poetar sobre o que deseja, e deixar neste não-lugar virtual qualquer rastro de incompreensão.

Tenho receio de que neste mundo utilitarista não se possa mais falar sobre coragem, entusiasmo, sonho e utopia, uma vez que "não tenho habilidade pra clarezas" (p.51) e de mim, Lumet, só saia a incompreensão perdida de desvarios de uma pessoa que sonha que pode ousar e remar contra a maré do que nos é dado como "natural"...

Natural não é normopatia,
ou escolher viver enclausurado em sub-regiões como shoppings e retirado para-a-terra-do-nunca em condomínios
é querer viver com poesia (sou escrivinhadora de versinhos também)
é querer sentir o odor da vida
é querer confrontar-se com a angústia de sentir-se um nada amorfo, mas demasiado humano
é sentir-se como um personagem de uma ficção estranha onde 1 em cada 7 habitantes do planeta Terra passa fome.

Natural é o assombro
fora de quatro paredes seguras ( segurança? até quando ou desde quando?)

Pra que ser poeta?
Pra que sonhar?
Pra que a filosofia então?

Para suspeitar!
Retirar obviedades e procurar sentido no até então insuspeito.
Questionar sobre a lógica de um mundo que produz miséria e abundância.

Por que falar sobre o nada?

A eloquência do silêncio fala muito mais e o tudo se esvai em nada no tempo efêmero de hoje.
O nada é o tudo de agora há pouco
mas se não transformado
vira o nada dos normapatas (aqueles para quem não há suspeita).
Este sim o nada perigoso, porque sem essência de vida pulsante
pleno de mediocridade média que reina soberana,
está sob a égide de traços conexos sob controle.

A barbárie está sempre à espreita
e nunca ( até quando?) sob suspeita...



Salve André Gorz!


sábado, 28 de junho de 2008

O inominável


"Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher..."

André Gorz -
Carta a D. História de um amor

Carta a D. é um livro que André Gorz escreveu para homenagear sua mulher, Dorine. Viveram juntos por quase sessenta anos. Em setembro de 2007, Gorz e Dorine suicidaram-se. O suicício é chocante, é como a anomia, carregado de idéias e julgamentos. Algo que pensamos: " Gorz, ser como era, não realizaria." Mas, após ler Carta a D. percebemos, foi um puro ato de amor.

E talvez esse amor ideológico-carnal, alma-corporal, sagrado-instintual exista... em algum lugar... no nada ou no tudo... o amor é, afinal, mais uma das nossas grandes utopias. Falar de amor, ou desejá-lo provavelmente é a utopia mais utópica da humanidade.


Mas... ainda podemos tomar sorvete de casquinha todos os dias e... ,
entre uma lambida e outra, degustar ingenuamente, o sabor de acreditar.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Ode ao Nada


As palavras escritas compulsivamente e sem sentido, me protegem.

Sem elas, fico nua dos meus fantasmas e sinto frio.

A estranheza das idéias me embala e o conforto está no desvio insuspeito de dúvidas.

Proteção efêmera de uma rosa em suspensão...

que deixa de ser ao sabor do tempo ido.

E, se tua origem se esvai, a biologia não faz mais sentido, aqui.

Está sob a terra pedaços de rosas, de mim, de tudo transformado em um novo nada, ciclos de regeneração.


Divinare.


Acreditamos na grandeza do pequeno e dos vermes que nos trazem às sombras reluzentes, fora do esteio da razão utilitarista porque há mais indícios daquilo que se foi descoberto sob um véu de poeira bendita.

O nada somos nós enquanto existentes pregnantes de tudo

Ser e Tempo
Sermos Nós:

Delirante, Lumet, Ma Belle e tu, ciber-lector,

que nos prestigias com a tua leitura salteada, produtor de teu sentido
amigos imemoriais...